É POSSÍVEL DAR LIMITES COM AFETO?
- carolinamachadobas
- 25 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de abr.

É POSSÍVEL DAR LIMITES COM AFETO?
Quero lhes falar um pouco sobre limites. Fico muito incomodado quando as pessoas falam de limites como sendo algo só da criança. Do que lhes falta. Como se limites dependessem apenas de condições internas.
Ao se relacionar com o mundo, a criança encontra resistências. Encontra contornos. São esses contornos que lhe ajudam a conviver em grupo, a entender e internalizar regras, a ser generosa com o sentimento das pessoas, a respeitar diferenças, a se tornar uma pessoa melhor todos os dias.
A relação com o mundo depende, nesse momento de vida, infância e juventude, da família, da escola e das amizades. E são essas “instâncias” as responsáveis por apresentar regras, condições, normas, deveres. Apresentar de forma direta, clara e verdadeira. Sem medo. Com comprometimento.
Quando escolhemos educar crianças, estabelecemos um contrato moral de traduzir o mundo para elas. Um mundo que é complicado, muitas vezes, e que não pode esperar que cada vontade e desejo sejam atendidos.
O que tenho presenciado (e o que tem me assustado demais – e rendido longas conversas com minhas parcerias em educação) é a absoluta falta de controle de algumas famílias com seus filhos e suas filhas. Sim! Ao invés das famílias se empoderarem das condições de mãe, de pai, de responsáveis por suas crianças, são estas que dominam e ditam totalmente a vida dos adultos. Tapas, gritos, beliscões, xingamentos. Uma gama gigantesca de PEDIDOS DE SOCORRO vindos dessas crianças!
Para mim, educador que sou, vejo essas atitudes como pedidos de socorro! Pedidos de ajuda para que seus responsáveis lhes digam o que devem fazer, como devem agir diante dos desconfortos e desafios da vida. Pedidos para que os adultos sejam adultos (façam seu trabalho de educar) e crianças sejam crianças (cresçam aprendendo no amor, na presença afetiva dos pares).
Daí, o que me parece é que os adultos estão com medo de frustrar. Medo de dizer não, medo de contrariar. Essa ausência de palavra só tem gerado ansiedade, insegurança e um comportamento tirânico, que será difícil de interromper futuramente. As crianças crescem acreditando que suas vontades sempre prevalecerão, no momento que elas julgarem ser melhor. Sabemos onde pessoas que não tiveram limites afetivos em suas vidas chegaram e como elas se comportam quando são contrariadas ou frustradas.
Sou a favor do NÃO QUE ACOLHE.
Não estou defendendo um modo autoritário de educar. Pelo contrário. Sou a favor do NÃO QUE ACOLHE. Esse não que interrompe o fluxo das emoções desconectadas de razão. O não que abraça e diz: estou com você até aqui. O não que determina o que é do universo da criança e o que não é. Não é a criança que escolhe se vai à escola, se come assistindo televisão, se não toma banho, se faz lição de casa. É o adulto. A criança escolhe do que brinca, seu personagem do dia, se pula com os dois pés ou com um, se dança rodando ou se roda dançando. Entendem a complexidade de nos ausentarmos daquilo que é nossa responsabilidade?
As crianças se angustiam, irritam-se, esbravejam, pois não têm recursos afetivos, instrumentos emocionais e racionais para resolverem coisas que não são suas responsabilidades. O pedido de socorro é um clamor pela infância: “Me deixem ser criança! Eu não quero decidir o que não consigo explicar!”. Mais ou menos assim.
O caminho – que começa pela ausência de regras vinda dos adultos, se amplia para um comportamento que corrompe a ordem da generosidade social e se enraíza num traço tirânico dessas crianças com seus responsáveis – é quase irreversível.
E, de uma questão individual, chegamos ao coletivo, feito por cada parte. Educamos para um mundo melhor. Cada vez que eu intervenho com o meu filho, sei que faço isso pelo mundo todo. Cada gesto é uma gota, que esfriará os ânimos tão efervescidos desse mundo.
Por fim, respondendo à pergunta que inaugura essa reflexão: só é possível crescer amorosamente se entendermos que oferecer ou dar limites são expressões de afeto, de importância com as nossas crianças e com o mundo!