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Alfabetização

  • carolinamachadobas
  • 28 de abr.
  • 4 min de leitura


Todas as formas de comunicação são fundamentais para o crescimento das crianças


Vamos escrever uma história. Era uma vez uma criança. Ela começou, logo no primeiro ano de vida, a entender que consegue modificar o meio para ter o que deseja. Chora, emite sons, e as pessoas que estão a sua volta reagem a favor de seu crescimento. Ela começa a se interessar por isso e pratica diferentes variações de sons, de gestos. Comunicação em ação! Início de um sentimento de mundo. Eis que, no meio de todo esse turbilhão, ela experimenta os primeiros passos. Mais um turbilhão. Caminha de um lado a outro, seu repertório se multiplica, suas pernas a levam a tocar, ver de perto, sentir, tudo aquilo o que os seus olhos conseguem e querem ver! 


Um pouco mais adiante, de tanto fazer traços, formas, linhas e pontos nos papéis, paredes e afins, percebe que consegue narrar, contar histórias, vivê-las e representar emoções, sentimentos, fantasias por meio de desenhos! Seus traços dão ação para a sua emoção. Fica assim uns anos, fica assim um tempo. Tempo suficiente para fazer com que se sinta segura para continuar caminhando, para continuar crescendo. 


De repente, descobre, com a ajuda de seus adultos, que isso não é suficiente, ainda, para estar no mundo, para fazer parte dele. É preciso se tornar alfabética, alfabetizada, letrada. Ler, escrever e interpretar.


Letras, palavras, frases, pontos, linhas, textos, histórias. Tudo o que conquistou até aquele instante, que teve tempo para sentir e caminhar em seu tempo, aquele tempo das permanências, dos sentidos, que faz com que as coisas durem uma vida, agora, em meses, ainda é insuficiente para ela estar nos contextos sociais.


Escrever e ler são possibilidades de se relacionar com o mundo.


E é com esse pensamento que eu me relaciono sempre que vejo uma criança se alfabetizar.

Vamos lá: TODAS as crianças que estiverem em uma escola comprometida em alfabetizar serão alfabetizadas. Não é verdade que aquelas que aprendem a ler e a escrever mais cedo escreverão melhor quando adultas. Também não é verdade que quem escreve antes de entrar no Fundamental será um estudante bom de pesquisa, de escrita e interpretação de textos. 


Escrever e ler são possibilidades de se relacionar com o mundo. Mas brincar, desenhar, jogar, fazer sons, inventar coisas, calcular, pesquisar, conversar e silenciar também são! E são tão importantes quanto! Há quem diz que não. Bem, no mundo dos adultos, ler e escrever parece que sempre foi o carro-chefe das coisas. Mas, no contexto infantil, um contexto em que as linguagens e as representações de mundo ainda estão se estruturando, tudo tem valor! Todas as formas de comunicação são fundamentais para o crescimento das crianças. 

E é por isso que ler e escrever precisa de tempo. Ninguém ficou com os seus filhos e filhas forçando-os a andar e a correr enquanto ainda engatinhavam, ninguém forçou as crianças a falar palavras enquanto ainda davam seus gritinhos e grunhidos, não é? E por que forçar com a leitura e com a escrita?


A alfabetização não se restringe apenas à decodificação do alfabeto. Não é somente juntar umas letras aqui, outras acolá. Ler e escrever vai além. Ler e escrever é expressar o que se pensa, o que se sente, é saber que essa comunicação precisa de alguém que fale, alguém que escute... Para que, por que, para quem se escreve?

Com três e quatro anos, por mais que as crianças estejam escrevendo as letras, geralmente, são as dos nomes delas, ou as dos nomes de seus familiares mais próximos, ou as de seus amigos. Mas ainda têm um caminho para percorrer. Um caminho que deve ser planejado pela escola. Um caminho que pede tempo. Um tempo mais alargado, sem pressa, sem pressão... Um caminho que equilibra perfeitamente brincadeiras, jogos, danças, pinturas e desenhos com letras e números. Ninguém escreve mais e melhor porque a escola puxou a alfabetização para três anos de idade. Pelo contrário. Há tempo para tudo.


Teoricamente, as crianças são alfabetizadas até os seis anos de idade. Sabe, nessa época, entre cinco e seis anos, gosto de conversar com as famílias para explicar sobre esse caminho pelas letras. Possíveis intervenções, tirar aqueles medos do que “pode” e “não pode” ser feito, conversar sobre ideias de “acertos” e “erros”. Tudo isso é importante para não confundir as coisas nesse momento tão importante para a criança.


Algumas dicas para todas as idades, inclusive para pais e mães: a boa e velha leitura antes de dormir. Você pode alternar a ordem da leitura com seu filho ou filha. Procure compartilhar escritas com as crianças... coisas simples: listas de compras, coisas da rotina, preferências musicais e literárias... Pense que elas começam a escrever com letras de forma maiúsculas, depois passam a ler livros com letras de imprensa, até chegarem à letra cursiva. Leia a lista de supermercado e outras listas. Imprima músicas, histórias e contos de que ela goste e leiam juntos.


Tenho certeza de que são pensamentos simples e comprometidos com o tempo das crianças que farão as suas histórias serem escritas com grandes e bonitas letras!



 
 

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