ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO EM TEMPOS DE ISOLAMENTO
- carolinamachadobas
- 28 de abr.
- 3 min de leitura

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO EM TEMPOS DE ISOLAMENTO
Depois desses meses virtuais (surreais) de vivência escolar, aprendi algumas coisas. Coisas que julgo serão essenciais para esse “futuro” que nos chega amanhã. A escola já se prepara para incorporar de maneira definitiva a linguagem virtual, mas deve refletir bastante sobre os processos que nos levarão a um trabalho de qualidade e com sentido para as crianças, famílias, professoras e escola.
E, para início de conversa, é importante que nos debrucemos sobre o que mais se pede, reclama, reivindica das crianças: concentração e atenção.
É preciso ressignificar esses dois conceitos para habitarmos o virtual sem estresse. Sim, porque eles estão ligados a outra noção importante em nossas vidas, que são a intimidade e a coletividade. Explico-me: a intimidade se constrói no âmbito íntimo do lar, da família, das experiências de ócio, no silêncio das nossas rotinas pessoais. A coletividade está ancorada nas experiências da intimidade e “põe” a roda da pessoalidade para girar. Intimidade é uma construção “caseira” e a coletividade é uma construção da experiência social da escola. Esse jogo, essa dança entre uma coisa e outra, constitui algo sólido, um alicerce em nós.
É na união entre casa e escola que o sujeito nasce, se consolida, alcança o mundo para transformá-lo.
Bem, mas como fica isso no campo da virtualidade? Não fica. Sabe quando perguntamos aos nossos filhos e filhas como foi a escola hoje e eles nos respondem: Bem? Nada mais do que isso? Sabe quando não querem contar sobre o que vivem sem nós? Pois bem, é nesse momento que afirmam que há algo da vida que não nos pertence, que só é deles e delas. Isso é algo da intimidade. Agora, no virtual, com a nossa presença dentro do grupo onde praticam a coletividade, com esse nosso olhar vigilante, que quer entender a matéria para explicar, que cobra atenção (já falo disso), que organiza, que tenta não atrapalhar e só ajudar, temos, como pais e mães, invadido o espaço da coletividade dos nossos filhos e filhas. E, do outro lado, a escola entra na casa, entra na vida íntima das crianças, transforma tudo aquilo que era diversão (a tv, os brinquedos, o sofá etc.) em distração, invade o lado da pessoalidade. Rompemos, com o virtual, esse jogo importante entre coletividade e pessoalidade. E as crianças estão na trincheira.
Atenção e concentração
Daí, vem a história da atenção e da concentração. Criança aprende com o corpo, aprende ressoando no corpo suas emoções. Lá no computador, só veem cabeças, só se veem como cabeças. Se somem da tela, logo são chamadas de volta para “prestarem atenção”. Atenção, aqui, já não é mais escuta, já não é mais reflexão, é concordância, é presença de cabeça. E a concentração? Bem, ela já é bem difícil de acontecer de forma linear nos contextos presenciais tamanho são os estímulos que as crianças recebem! Imagine diante de um computador em casa? Tudo contribui para a tal da concentração ser oscilante.
Dito isso, nossa missão, tanto como educadores e educadoras, mas como pais e mães, é criarmos rotinas, estratégias e intervenções que afirmem o espaço interno do aprender. Respeitando tempos, limites, interesses. Atenção e concentração não são sinais de aprendizado. Não aqui no online. Então, reconheça os tempos das crianças. Deixem-nas se movimentarem. Deixem-nas deslizarem pelas cadeiras, desenharem suas abstrações, se perderem nas leituras, se desorganizarem nas contas. Tá tudo certo. O esforço é gigantesco e elas só querem que o convite para a volta seja respeitoso e valorize cada segundo diante dos computadores. Aqui, quanto mais se valoriza, mais se aprende. No mais, estamos aprendendo. Estamos num gerundismo, tentando nos entender, reconhecendo processos, aprendendo com os erros e desenhando o nosso futuro.