MAMÃE, EU QUERO!
- carolinamachadobas
- 28 de abr.
- 2 min de leitura

E se eu te dissesse que temos a chance, hoje, a cada dia, a cada intervenção com as nossas crianças, de mudar o mundo? Vamos pensar, rapidamente, como temos habitado o nosso planeta.
Nossas relações estão pautadas nas nossas “necessidades”. A sociedade nos diz: persiga o prático, o que não te tira tempo de fazer as coisas que você “deve” fazer. Então, abra uma lata de comida, ao invés de cozinhar, ande na esteira, ao invés de ocupar a sua cidade, compre pela internet, ao invés de tirar o bumbum da cadeira. E tudo bem se você gosta disso.
Somos bombardeados pela doutrina do consumo, que procura categorizar e classificar pessoas pelas suas posses. As marcas e os produtos definem, há tempos, quem somos e como nos comportamos.
A gente deixa de ser quem podemos ser e passamos a ser quem surge a partir da relação com os objetos que consumimos.
Daí, sem ao menos pensar no que consumimos (porque, na verdade, nos importamos apenas com a representação que o produto nos oportuniza), nos esquecemos de nos conectar com o que a gente realmente precisa.
As crianças ainda não entendem muito bem o que tudo isso significa. Para elas, ser e ter são coisas totalmente misturadas, pois há tanta espontaneidade, tanta autenticidade que elas, simplesmente, vivem. Para elas, o ter não representa nada, ou não deveria representar. Quem é capaz de ser princesa, gatinho, foguete em menos de 15 minutos não tem problema de identidade, de performar identidade para ninguém.
Mas o que vejo há tempos são crianças expostas demais à relação de consumo. Crianças que são atendidas em seus pedidos por coisas (e a televisão tem muita responsabilidade nisso) sem a menor cerimônia. Escutei relatos de famílias que afirmam que compram brinquedos, roupas e eletrônicos para compensar a ausência de pai e mãe por conta do trabalho. E isso acontece também todas as vezes que nos esquecemos de que precisamos de afeto, de generosidade e de amor, e que tudo isso está dentro de casa, independentemente do que você está vestindo ou do carro em sua garagem. Acontece quando os shoppings são os lugares de passeio das crianças. Mesmo se você não comprar nada, tudo o que está ali se refere ao consumo. Acontece quando as crianças escutam os nossos julgamentos das pessoas pelo que elas têm. Acontece quando não refletimos sobre toda a cadeia de produção dos objetos desejados: o que está por trás da marca que visto, da comida embalada em plástico que compro, do cosmético testado em animais que uso sempre.
Ninguém precisa deixar de consumir. Mas todo mundo precisa aprender a consumir. Consumo consciente. Os recursos do mundo estão se esgotando, bem como o amor que circula em nossas relações, porque pessoas e coisas estão sendo descartadas da mesma forma.
Então, a hora de mudar é agora. Pense, reflita e debata antes de comprar, de se satisfazer com algo material. Eu preciso disso? Onde? O melhor processo educativo para as crianças é aquele que começa dentro de nós, que faz sentido para a gente. Criança aprende observando coerência. E não nos esqueçamos do mantra, que pode ser repetido sempre: ser é mais importante do que ter.