EXCESSO DE TELA E SUAS CONSEQUÊNCIAS
- carolinamachadobas
- há 5 dias
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Socialização, corpo amortecido, imediatismo e empobrecimento do repertório
Quem tem criança em casa sabe. Quem é professor, professora sabe também: a pandemia criou, entre outros problemas, uma geração que foi profundamente impactada pelas telas de computadores, celulares e televisão. O tempo excessivo diante desses dispositivos foi muito prejudicial às crianças. Se, antes da pandemia, as crianças já ficavam tempo demais na frente das telas, com a pandemia, esse tempo se multiplicou, fazendo com que mais da metade do dia fosse ocupado com essa “ação”. E digo ação entre aspas porque o corpo está parado, a mente está presa e condicionada ao que o estímulo externo comanda.
Há tempos, eu digo que temos uma Geração Touch surgindo, nascendo. Bom, nasceu e já está jovem, de tão rápido que as coisas aconteceram. Essa geração aprendeu que o mundo está na ponta dos dedos. Basta arrastar que o mundo inteiro se conecta a você. Único esforço. O corpo ficou amortecido. Adormeceu e perdeu expressão. A cabeça sempre para baixo, os ombros encolhidos e o isolamento de um prazer que é momentâneo e instantâneo desconectam as crianças do mundo social.
Com tudo isso, estamos perdendo a noção do coletivo. As brincadeiras estão sendo extintas, como num massacre ambiental. O contato inteiro com a natureza tem dado lugar aos jogos e aplicativos que ditam como a criança deve ser, dançar e se comportar para ser aceita num grupo que nem existe.
Parece radical o que digo, né? E é mesmo. Eu vejo de dentro da escola, escuto relatos, avalio comportamentos de crianças que estão totalmente abaladas com tudo isso e não conseguem mais conectar emoção com razão, quase. Não conseguem aprender, pois estão com a sensibilidade adormecidas.
Quero compartilhar aqui quatro sintomas dessa desconexão com o mundo:
Socialização: a criança se basta na frente dos jogos. É ela e o dispositivo. Prefere ficar lá, sozinha, jogando, do que sair para brincar, por exemplo. E a pandemia criou essa falsa socialização dos quadradinhos das salas de aula. A criança fica passiva, sem movimento. Encontra muitas dificuldades de interação com o grupo, muitas dificuldades de se reconectar às regras coletivas de convivência. Enfraqueceu o movimento empático do mundo.
Corpo amortecido: O corpo Touch. Não somos mais eretos. Somos tortos. Pescoço torcido, pernas fracas, sem saúde. Os olhos se mexem e dão a impressão de que é o corpo todo. Com isso, as crianças não sentem mais com o corpo. Perderam a sensibilidade. E o aprendizado começa aí, nesse templo. Sem corpo, sem inteligência emocional.
Imediatismo: a criança não vê sentido naquilo que não dá, instantaneamente, prazer. Não se interessa pelo processo. Tudo tem de acontecer naquele momento. E, se é difícil, abandona as tarefas. Quantas crianças vejo na sala de aula que não lidam bem com frustrações, com desafios novos, com dificuldades no caminho de aprender? Com isso, elas só se interessam pelo mundo se ele pode ser imediatamente consumido para satisfazer o seu prazer individual.
Empobrecimento do repertório: as crianças ficam expostas aos repertórios que são mais interessantes aos produtores dos apps e afins. Então, é só consumo e estereótipo. Daí, vejo crianças que pararam de se comunicar com clareza, crianças menos generosas com as diferenças.
E vocês me perguntam: o que fazer? Comecem desligando suas telas, sejam exemplo. Desliguem a tela das crianças, controlando os horários e os conteúdos. As crianças precisam desse direcionamento. Elas são as vítimas. Sejam firmes: reconexão com o natural exige dedicação. Estimulem a brincadeira, pois o brincar conecta a criança com a intimidade sensível. Passeiem. Prefiram ficar ao ar livre para a criança esticar o corpo, movimentá-lo livremente. Atividades domésticas despertam reconexão familiar, o eu com o mundo. Colo e carinho para atravessar esse momento. Leiam. A leitura estimula a fantasia e a criatividade. Respirem consciente. A respiração conecta a pessoa às coisas simples e essenciais. E conversem muito. Criança precisa da nossa orientação para fazer essa jornada num mundo que precisa demais de atenção plena, cuidado e amor.