A ESCOLA IDEAL
- carolinamachadobas
- 28 de abr.
- 3 min de leitura

Escola é reflexo do que somos e do que queremos ser
Por que nos preocupamos tanto com escola? O que achamos que a escola guarda? Por que estamos sempre inquietos com ela? Por que a escola ocupa um espaço gigante na infância e na juventude dos nossos filhos? Por que se gasta tanta grana para que os filhos e filhas estudem “nas melhores escolas”?
Quanto tempo gastamos em nossas vidas procurando a escola ideal? Bem, quem se preocupa com isso deve entender que ela não existe. Não existe a melhor escola, não existe uma escola que vai te conquistar do começo ao fim. Não existe escola que acerta sempre, que é sempre boa.
Escola é como gente. Aliás, é um ser repleto de sentimentos. Sim, tem dias que as coisas não funcionam. Tem dias que as coisas saem todas atrapalhadas. Tem dias que é brilhante.
Escola é feita para desgostarmos. Escola é feita para projetarmos. Escola é reflexo do que somos e do que queremos ser. Escola carrega tudo isso, multiplicado por cada pessoa que a frequenta e tenta, a todo custo, ter identidade. Não é fácil ser escola.
E o que procuramos na escola? Porque depositamos nela todas as expectativas por um mundo melhor? Já respondo aqui: porque a escola é a representação de como as nossas individualidades se organizam coletivamente para vivermos e criarmos um mundo que só existe em nossas cabeças: o ideal. Mas sabemos que isso é ilusão. Resta-nos pensar, de maneira bem literal, a parte que nos toca, socialmente, sobre a importância desse espaço em nossas vidas sociais. Eis meus pensamentos:
As escolas deveriam ser mais leves: menos academicismo, menos apostilado, menos trabalho. Deveriam ser menores: a ponto de caberem em nossos bolsos (literalmente), de darem espaço para que todas as individualidades realmente apareçam. As escolas deveriam ser mais autorais: menos seguidoras de profetas, menos copiadoras de referências. As escolas deveriam ser livres: porque, ao se libertarem, podem ser de cada pessoa que ali frequenta e, finalmente, encontrar a sua porção comunitária.
Escolas deveriam falar de futuro. Sim, não desse futuro ideal, do vir a ser, que aniquila o presente, mas de como temos construído o futuro. De como escolhemos viver o hoje e, portanto, construímos o amanhã. Escolas deveriam projetar, ter coragem de transformar o agora, o que está posto. Escolas devem ser lugar de reflexão sobre a sociedade. Enquanto não tivermos outras profissões, para além das ligadas às psicologias e pedagogias, não entenderemos a complexidade das nossas relações. Imaginem uma escola com arquitetos, engenheiros, sociólogos, políticos, artistas, economistas, administradores? Todo mundo ajudando a construir a noção dos acontecimentos atuais e futuros. É na diversidade que se liberta a alma dos radicalismos.
Escolas deveriam falar do presente. Presente é agora. É razão e sentimento ainda em fase de negociação. É quando a reflexão acontece, quando nos descobrimos críticos, sensíveis e incompletos.
Para a infância, só existe o hoje. É aqui a morada da vida. Escolas sempre anulam o hoje na crença de que são feitas para moldarem sujeitos ideais. Não é assim. Escolas deveriam valorizar cada instante, cada pedaço de vida para que as crianças cresçam na noção de que cada gesto importa, cada palavra é única. Respeitar o diferente começa nesse lugar de valor do miúdo.
Escolas deveriam ser como a natureza: imperfeita, imprevisível, imensa. A imperfeição ativaria a nossa responsabilidade por aceitarmos a vida como ela é. Sem julgamentos, sem melindres, baseada nos fatos e observações. Sem o filtro da vaidade, do ideal. O real desperta e a imperfeição conforta. O imperfeito faz a gente olhar para o lado e aceitar como somos e como são. O imprevisível oferece a chance de vivermos o aqui e o agora, de encarar o mundo com amor e coragem, porque é isso que nos sobra quando estamos diante do longo caminho da vida. Imensa porque é na imensidão que a escola nos ensina a sonhar. Sem fim. No horizonte, só há o nascer e o renascer.
Importar-se com a escola é a chance que temos de nos reencontrarmos com a matéria (não escolar) de que somos compostos: o senso de justiça, o amor, a compaixão, a generosidade e a vontade de vivermos em paz. Viva a escola da vida!