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O lar é a morada da infância toda

  • carolinamachadobas
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura


O lar significa ventre, lar significa cuidado.


Lar é morada. Morada é universo de amor, o que já é um espaço e tanto. Lembro-me da minha casa quando era pequeno. Mas eu me lembro de partes dela. Na minha lembrança, aquela casa era tão grande, do tamanho do mundo. Tem gente que diz que é porque eu era pequeno, mas eu acho que não. Acho que ela era grande por conta do seu significado. Morar numa casa é como receber um colo de mãe. É ser acolhido por um espaço que te dá contorno. O lar significa ventre, lar significa cuidado. E é por isso que ele é grande nas lembranças. Um mundo cabe naquele lugar. 


Papai, eu sinto saudades da nossa casinha. Eu tinha tudo o que eu precisava lá. E o que você quer de lá? Eu quero uma sala sem móveis, como a gente tinha lá. Entendo que o Enrique não sente falta das coisas, sente falta da falta de coisas (afetos) nos lugares. Eu quero ter espaço para brincar das minhas brincadeiras. Mas, filho, aqui você tem espaço de sobra: tem jardim, tem piscina, tem uma sala gigante. Eu sei, mas não é igual. Aqui, nessa parte da sua fala, é onde aprendo que os espaços sem coisas não são espaços vazios. São espaços disponíveis ao afeto. A criança se relaciona no espaço entre as coisas. Enrique sente falta do espaço de afeto, da infância que tinha. Filho, eu posso te ajudar a pensar em umas brincadeiras legais aqui nessa casa nova. Pode ser, papai. Agora não, depois. Silêncio... e foi para o canto desenhar.


O lar é morada do crescimento. É acolhida para as incertezas que acontecem no decorrer da vida de uma criança. Porque crescer não é assim, tão fácil para elas. Requer muita coragem encarar o mundo sem recursos suficientes. 

Papai, quando a gente vai voltar para a nossa casa? Não sei, filho. Só sei que vai demorar mais um pouco. Mas será que eu vou caber ainda na sala? Pois é. Eu não saberia responder para ele. Não acho que ele vai caber. E isso é difícil reconhecer e explicar. Reconhecer porque ele está crescendo diante de mim, seu pai, que quer para sempre filho-no-colo. E de explicar porque a constatação de que estamos a crescer, seja em qualquer etapa da vida, é difícil. Reconhecer-se é tarefa constante.


Filho, não se preocupe com isso agora. Deixa eu te dizer que a nossa casa é o mundo todo. A gente tá vivendo algo diferente (para as leitoras e os leitores que não sabem, estamos morando na Indonésia). Sem casa, sem parada, aliás, vamos para onde o nosso coração mandar. Eu sei, papai, mas é que essa casa tá grande demais para o meu coração, que manda eu voltar pra... para, respira... pensa (muito). Nada, não: eu gosto de morar onde você e mamãe estão. Pronto. A nossa casa é a morada do amor. É a morada da vida, da proteção. 


A casa é o lar do abraço. Assim deveria ser. É onde mora a lembrança do presente, os planos de um futuro que nasceu ontem, já passado, tão presente. Lar: janela da alma, do amar. Lar: chave do portal da vida. Casa: cabe todo mundo. Quem sou, quem fui, quem serei.


Filho? A gente carrega um espírito livre, nômade. A gente tem sede de mudar e pode levar conosco cada lugar no coração, na mente. Papai? Tenho saudade do som daquela madeira solta no chão da sala. Só isso. Tá bom, filho, minha casa, lar do meu amor infinito.

Fim.


 
 

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