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O MEDO E AS DORES DE SER MÃE E PAI

  • carolinamachadobas
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura


Filhos são nossos e são do mundo


A vida dos nossos filhos e filhas não está sob nosso controle. A gente não consegue privá-los das dores e dessabores da vida. Não conseguimos evitar que sofram. Que sofram por serem frustrados, por serem contrariados, por serem agredidos. Não conseguimos evitar que sintam medo, que sintam raiva, que se sintam só, injustiçados. Não controlamos as amizades que ferem, nem os amores que machucam o coração. Em nenhuma idade de suas vidas, teremos esse poder. 


Desde que me tornei pai, vivo com um certo medo de perder o meu filho. Sim, tem muita gente que não assume isso, mas precisamos falar abertamente sobre esse sentimento para podermos crescer. Tenho medo da morte do meu filho. 


Tenho medo que ele sofra, que ele sinta dor. Tenho medo da sua tristeza. Tenho medo de perdê-lo. Nós não fomos educados para transcender esse sentimento naturalmente. É preciso autoconhecimento, espiritualidade, elaboração, psicoterapia. Um baita caminho para entender que a vida é tudo isso. 


Não consigo ouvir relatos de famílias que perderam os seus filhos sem me despedaçar. Não consigo, muitas vezes, ouvir esses relatos até o final. Antes de dormir, pensamentos me atormentam, criando mil histórias com hipóteses absurdas sobre viver o luto como pai.


Dois pensamentos:


  1. Ainda bem! Nossos filhos e filhas não são nossos! São do mundo. Desse mundo que nos provoca a crescer, que insiste em dizer que a vida é fluxo e, em sua potência, entre ser feliz e ser triste, existe a própria vida! A vida é tudo isso! O aprendizado também mora na dor. E é só por meio das coisas que nos desagradam que conseguimos entender e buscar por tudo aquilo que pode nos trazer conforto. Até – muitas vezes – as coisas que nos fazem sofrer são o motor que nos faz mudar! E ser pai e mãe nessas condições faz com que entendemos que temos a missão de educar as nossas crianças para serem do mundo. Oferecemos o frescor da vida em sua plenitude de amor para um mundo tão carente de infâncias. E, como adultos, escolhemos viver o amor incondicional, mesmo que ele pressuponha uma ruptura, seja lá qual for. No fim, educamos para não precisarem de nós e caminharem as suas vidas sozinhos. Educamos para que sejam independentes e vivam a vida em sua potência. A vida deles e delas é deles e delas. Ponto.


  1. O medo que paralisa. Quando acreditamos, realmente, que os nossos filhos e filhas são nossos. Quando depositamos em sua existência mais do que podem carregar. Quando a maternidade ou paternidade se tornam mais pesadas do que já são. Quando eles representam a extensão das nossas vidas, carregando nossas expectativas, anseios, culpas e crenças.


No fim, toda a educação que oferecemos aos nossos filhos é da ordem da preservação da humanidade, da vida. Queremos que sejam pessoas melhores, do bem, pois acreditamos que, com boas atitudes, suas vidas sejam preservadas. O que podemos lhes oferecer é a nossa verdade, a nossa fragilidade, a nossa reflexão, o nosso colo, a nossa escuta. Podemos lhes abrir perspectivas para enxergarem caminhos. Sem respostas prontas, sem determinar como caminharão diante da dor. Às vezes, o melhor conselho é o silêncio. Não da omissão do sentimento, mas do respeito à fala de quem sofre. Ouvir com o coração para surgir a fala da alma. 


Nossos filhos e filhas precisam da nossa inteireza. E nós, pais e mães, precisamos de gente para compartilharmos os nossos processos. Gente que não nos julgue, que não nos condene ou nos deixe para baixo com esses momentos de fragilidade. Precisamos de pessoas que nos escutem, abracem, acolham e nos encorajem para mais um dia na luta que é ser pai e mãe. Obrigado pela leitura do que guardo no coração. 

 
 

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