O QUE É PRIORIDADE NA SUA VIDA?
- carolinamachadobas
- há 5 dias
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Dar o filho ao mundo
Ninguém nasce pronto para se tornar mãe ou pai. É um processo. Um processo que desperta na presença dos nossos filhos e filhas. A gente, quase que de forma intuitiva, ama incondicionalmente nossas crianças quando chegam ao mundo. Mas, ao mesmo tempo, quase que instantaneamente, somos jogados num oceano de incertezas, angústias e questionamentos.
Intuitivamente, vamos lidando com as situações, tentando preservar a vida daquele ser, oferecendo-lhe todo o amor e conforto que precisam para crescerem. Sem saber, acertamos muito e erramos demais. E a vida nos cobra essa flexibilidade: conscientizar-se de que os caminhos da educação são compostos por erros e acertos que nos libertam para nos descobrirmos pais e mães.
Então, nessa potência de vida, são filhos e filhas que ensinam mais do que nós. E eles ensinam como tratar uma vida. Como tratar e cuidar da vida. Dessa, que acontece diante de nós e que pede presença, verdade e inteireza.
Só que o que vemos em nossos tempos e na maneira como estabelecemos prioridades em nossas vidas é que essas três condições de viver a vida estão cada vez mais distantes. Excesso de trabalho, falta de tempo e um cansaço gigante de atravessarmos a jornada diária de se morar num mundo dividido e bélico fizeram com que a gente se perca na prioridade número um dessa vida: cuidar das vidas que colocamos no mundo. Essa frase é forte: colocamos vida no mundo. Semeamos o mundo com pessoas, crianças. E elas têm ficado, muitas vezes, em segundo plano, ou, então, temos confundido o tipo de afeto que lhes oferecemos.
Vamos lá: em segundo plano, porque o trabalho, o futuro (que nunca vai chegar), o trânsito, a conta no banco são sempre distrações para os chamados das crianças. Tem de fazer lição juntos? Ah, não! Que saco de escola! Tem de brincar, correr, pular? Ah, não! Não vê que o papai e a mamãe estão cansados? Tem de fazer coceguinhas? Ah, não! Tem o jantar para fazer. Procrastinação de amor que não será dado, porque o amor bate na porta uma vez só de forma inédita.
Quantas vezes escuto a frase “quase não paro em casa porque estou trabalhando duro agora para dar um futuro para a minha filha, meu filho”. Mas as crianças só querem o presente, só existe o hoje. Aproveite! Não dá para jogar na mesa também o fato de que “todo o sacrifício do hoje é por elas”. Certeza de que não pedem isso e que é um fardo pesado demais para uma criança carregar.
Confundir o tipo de afeto significa compensar toda a presença que a criança te pede por coisas, objetos. Isso vemos demais. Um quarto cheio de brinquedos que brincam sozinhos e um coração vazio de memórias afetivas.
Colocar uma criança no mundo exige tempo, disponibilidade amorosa. Exige compromisso com a qualidade (palavra nada poética, mas necessária) relacional.
A gente oferece ao mundo os nossos filhos e filhas para mudar o mundo. E o que lhes ensinamos e lhes oferecemos de amor na infância será o que eles cultivarão no futuro.
Colocar uma criança no mundo vai revelar muito de quem somos. E, nesse processo de aprendizagem, o resultado final é o ser humano que nos tornamos.